#66 - O Haiti Contemporâneo

05/02/2024

O que vem à sua cabeça quando pensa na história do Haiti? A representação mais comum é a de um país de extrema pobreza, com conflitos internos e que sofre com eventos naturais devastadores, causando intensa imigração, inclusive para o Brasil. A segunda imagem está relacionada a um evento histórico marcante: a revolução contra o colonialismo europeu no século XIX que resultou na libertação dos escravos.

No entanto, a História do Haiti não pode ser resumida a estes dois capítulos. Da revolução até os dias de hoje, duzentos anos de história não foram contados. O país viveu seus primeiros anos marginalizado e isolado, sendo obrigado a pagar uma enorme indenização à sua antiga metrópole, a França. Politicamente, o país passou por intensas mudanças, alternando períodos de monarquia, império e república.

Em 1915, foi ocupado pelos Estados Unidos sob a premissa de acabar com a "anarquia, selvageria e opressão". A resistência foi feita por uma guerrilha de camponeses armados liderados por Charlemagne Péralte. No entanto, seus cerca de 15 mil integrantes acabaram derrotados pelos estadunidenses, que ficariam no país até 1934.

Em 1957, foi eleito François Duvalier, médico e intelectual haitiano. Conhecido como Papa Doc, ele valorizou a negritude, a cultura e o vodu, tradição religiosa haitiana. Entretanto, depois de um certo tempo, seu governo passou a perseguir seus opositores. Sua postura anticomunista o aproximou dos Estados Unidos. Após sua morte, seu filho, Baby Doc, assumiu o poder e manteve o autoritarismo até 1986, quando foi derrubado após vários protestos.

No ano de 1990, o ex-padre Jean-Bertrand Aristide foi eleito democraticamente. Após seis meses, seu governo sofreu um golpe militar. A medida foi rejeitada pela comunidade internacional e ele foi realocado no cargo com apoio da ONU. Reeleito em 2000, Aristide viu uma nova onda de protestos surgir. A instabilidade do país fez com que fosse criada a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) que durou até 2017. Cerca de 30 mil soldados brasileiros passaram pelo país ao longo de 13 anos. Os militares foram acusados de uma série de abusos, como a onda de filhos abandonados pelos chamados capacetes azuis, que se relacionaram com mulheres haitianas. 

De que forma a independência do Haiti ecoou em sua História? Como ocorreram as intervenções militares estrangeiras nos séculos XX e XXI? De que maneira Brasil e Haiti se entrelaçam em uma história atlântica conectada? Para responder a essas e outras questões, o Hora Americana tem o prazer em receber hoje o professor Rodrigo Bulamah, da UERJ. O episódio já está disponível nas principais plataformas de podcast e também em nosso canal no YouTube. Esperamos que gostem do programa e deixem suas opiniões, sugestões e críticas! Também não esqueçam de nos seguir em nossas redes sociais.

Conheça nosso entrevistado

No episódio #66 abordamos a história recente do Haiti. A ilha de São Domingos é dividida entre a República Dominicana e o Haiti, a parcela que corresponde a este país geralmente é lembrada como um lugar de desastres naturais e de vulnerabilidade social, contudo, sua história vai muito além dessas concepções limitadoras. Por exemplo, não são todos que sabem que no século XVIII o Haiti promoveu uma revolução anti-escravista e expulsou os colonizadores da ilha. Tal ação atemorizou uma série de regiões que, assim como o Brasil também utilizavam a mão de obra escravizada. 

Já durante o século XX, por sua vez, o país sofreu interferências e abusos estadunidenses. Também no século XX ocorreu a eleição de Papa Doc, líder político negro que enaltecia características culturais e estéticas de herança africana, mas que, posteriormente realizou um governo com traços autoritários. Estes são apenas alguns dos aspectos políticos e culturais do Haiti, país com características e uma história muito mais complexa do que senso comum muitas vezes infere.

Para tratar destes temas, contamos com a participação de Rodrigo Charafeddine Bulamah.

Professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pós-doutor pela Unifesp (2023) e doutor em Antropologia Social e Etnologia pela UNICAMP e École des Hautes Études en Sciences Sociales. Suas pesquisas se concentram na história recente caribenha, mais especificamente do Haiti e da República Dominicana e suas relações com a ecologia, relações raciais, mobilidade e processos de revolta e emancipação. Bulamah foi revisor dos periódicos PROA - Revista de Antropologia e Arte e dos projetos de fomento Réseau Français d'Études Brésiliennes e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Ganhador dos prêmios Prêmio Jovem Pesquisador (publicação de tese), Société des Américanistes (2021), Tese indicada ao Prêmio CAPES na área de Antropologia, Departamento de Antropologia, IFCH, Unicamp (2019), Dissertação indicada ao prêmio ANPOCS 2013) e da menção honrosa no "Guy Alexandre Paper Prize", Seção Haiti-República Dominicana da Associação Estudos Latino-Americanos (LASA). 

Rodrigo tem vários capítulos publicados em livros e dezenas de artigos e apresentações em congressos em seu currículo. Participa de bancas de defesa em níveis de mestrado e doutorado, ao passo que também atua como orientador de pesquisas nestes níveis. Em breve, publicará sua tese de doutorado: "Ruínas circulares: vida e história no norte do Haiti"


Dicas e Links

Livro - "Silenciando o passado: poder e a produção da história" de Michel-rolph Trouillot

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