Por muito tempo, a Amazônia foi considerada uma região presa ao passado, um local inabitado e intocado pela ação humana. No entanto, pesquisas recentes vêm encontrando indícios de uma presença indígena muito profunda e antiga. Uma região viva e cheia de transformações.
Entre outros exemplos de descobertas ocorridas nas últimas décadas estão os dezenas de geoglifos encontrados no Acre e as pirâmides de terra batida com até 20 metros de altura localizados na Amazônia boliviana. Além disso, pesquisadores encontraram estruturas como vilas e cidades em várias partes da floresta, estimando que possa haver mais de dez mil monumentos e construções na região, a imensa maioria ainda a serem estudados.
Essas descobertas contribuem para questionar outro estereótipo muito resistente quando se aborda a região amazônica: a homogeneidade dos indígenas que a habitam. A visão de uma massa indigena indistinta é muito antiga, remetendo a relatos europeus do início do período colonial, que descreviam a presença de bárbaros grupos nômades. Esta imagem, no entanto, se desfaz diante das pesquisas que vêm sendo feitas nas últimas décadas, que mostram uma região amazônica complexa, plural e dinâmica.
Ao mesmo tempo em que nosso conhecimento sobre o passado da floresta aumenta exponencialmente, cresce também, em velocidade ainda maior, a percepção sobre os riscos que a Amazônia enfrenta através de múltiplas ameaças: criação acelerada de pastos para a agropecuária, a monocultura de produtos como a soja, o garimpo ilegal, entre outras práticas que impactam não apenas a floresta, mas, em última instância, todo o planeta.
Como a Floresta Amazônica se formou? Quando os seres humanos chegaram à região? De que forma os grupos indígenas ocuparam e transformaram a floresta? O que as pesquisas recentes revelam sobre o passado da floresta? Para essas e outras questões, conversamos hoje com Eduardo Neves, professor titular e diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. 

Conheça nosso entrevistado

No episódio #64 abordamos a história da Amazônia, território que se estende por nove estados brasileiros e vários países da América do Sul. Essa região de proporções continentais durante muitos séculos foi vista e interpretada como sendo deserta, sem história, em suma, uma selva intocada. No entanto, pesquisas recentes têm refutado estas concepções a partir do descobrimento de geoglifos, pirâmides de terra batida, cerâmicas entre outros sinais da profunda atuação humana na região. Muitos pesquisadores têm dedicado esforços no sentido de apontar o uso político por trás das afirmações sobre a falta de história na Amazônia, o que vem sendo amplamente contestado a partir de comprovações que indicam uma pluralidade de grupos indígenas, cultural e regionalmente distintos, que habitavam e habitam a região.
Para tratar deste tema extremamente complexo e em profundo movimento de expansão, contamos com a entrevista do professor doutor Eduardo Góes Neves.
Neves é Professor Titular e Diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, instituição na qual graduou-se em História e onde hoje leciona para a graduação e pós graduação. Também é professor do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Sociocultural do Museu Paraense Emilio Goeldi, Belém, do Programa de Mestrado em Arqueologia do Neótropico da Escola Superior Politécnica do Litoral (ESPOL), Guayaquil, Equador, e do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade do Centro da Província de Buenos Aires, Olavarría, Argentina, tendo sido professor visitante nas Universidades Harvard, na Pontifícia Universidade Católica do Peru, no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio Janeiro e no Museu Nacional de História Natural de Paris.
Eduardo coordena o Centro de Estudos Ameríndios (CESTA) da USP e o Laboratório de Arqueologia dos Trópicos do Museu de Arqueologia e Etnologia. É responsável pelo grupo de pesquisa "Ecologia Histórica dos Neotrópicos" e elaborou o programa do Curso Superior de Tecnologia em Arqueologia da Universidade do Estado do Amazonas.

Dicas e Links

Livro - Arqueologia da Amazônia, Eduardo Góes Neves, Zahar: 2006.

Livro "1499 - O Brasil Antes de Cabral", Reinaldo José Lopes.