#60 - A teologia da Libertação na América Latina

18/09/2023

A ideologia que prega a solidariedade e compaixão com os mais pobres é um aspecto presente no cristianismo desde os tempos da chamada Igreja Primitiva. Presente nos evangelhos, cartas paulinas e sermões, a necessidade de ajudar os mais pobres é parte dof fundamentos do ser cristão.
Desde os séculos XIX e XX, alguns debates já questionavam as condições de vida dos trabalhadores e as situações de miséria presente na sociedade. Filósofos e pensadores refletiram a respeito dos problemas sociais e qual o papel da igreja nesse contexto. Dessas reflexões, começavam a se desenvolver uma Democracia Cristã, importante corrente em vários países europeus e latino-americanos.

Entre 1962 e 1965, foi realizado o Concílio Vaticano II. O objetivo do concílio era modernizar a instituição e reaproximar-se dos fiéis. Na ocasião, já havia um setor do clero com uma vocação social, e formalizaram o pedido com a assinatura do Pacto das Catacumbas. Esse pacto firmou o compromisso de um estilo de vida essencialmente pobre para o clero, renunciando à moradia, roupas e símbolos que transmitisse algum aspecto de riqueza.

Assim como dentro da Igreja, os fiéis católicos estavam mais engajados com as causas sociais, principalmente na América Latina. A criação da CEBS - Comunidades Eclesiais de Base reforçaram esses laços sociais e lidavam com os problemas coletivos locais como a marginalização dos trabalhadores e o seu abandono pelo sistema.

Nesse contexto, a pregação não estava mais relacionada à salvação da alma após uma vida de sofrimentos terrenos. O Reino de Deus e uma vida plena deveriam ser alcançados em vida. Essas transformações se cristalizaram durante a Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, ocorrida em 1968, na Colômbia. Foi a primeira vez que um pontífice visitou a América latina.

A maioria dos membros inclinados às causas sociais não se envolviam politicamente, porém na América Latina a luta pelos trabalhadores e os mais necessitados se convergiu com a política, como a fundação do "Movimento de Sacerdotes para el Tecer Mundo" em 1967 na Argentina. No governo de Salvador Allende, foi criado o grupo "Cristianos para el Socialismo", integrado por dezenas de clérigos envolvidos nas lutas dos trabalhadores e no governo da Unidade Popular.

A ideologia de uma "Igreja dos Pobres" está no cerne do movimento que se denomina "Cristianismo da Libertação". Nos anos 1970, a Teologia da Libertação tomaria forma, sendo formalizada em escritos e livros. Reflexões que mobilizaram teólogos e sacerdotes católicos, além de vários protestantes em torno dessa ideologia.

Mas se o socorro aos pobres e o sentido de comunidade são atributos cristãos desde o início do catolicismo, por que apenas anos 1970 de converteu numa teologia? Quais são as raízes das transformações que levaram a Igreja a voltar-se a temas sociais e políticos? Como a Teologia da Libertação impactou a política latino-americana e os movimentos sociais a partir do fim das ditaduras militares na região?

Para nos ajudar a entender essas e outras questões, o Hora Americana recebe hoje Mairon Escorsi Valério, docente da Universidade de São Paulo e pesquisador do tema.

O episódio já está disponível nas principais plataformas de podcast e também em nosso canal no YouTube. Esperamos que gostem do programa e deixem suas opiniões, sugestões e críticas! Também não esqueçam de nos seguir em nossas redes sociais.


Conheça nosso convidado

No episódio #60 abordamos a História da Teologia da Libertação, doutrina religiosa muito presente na América Latina dentre os anos de 1950 e 1970. Contudo, para refletir sobre essa vertente da Igreja Católica, faz-se necessário voltar ao século XIX e observar a encíclica Rerum Novarum (1891), do Papa Leão XIII, na qual explicitou-se a preocupação do religioso com a situação de exploração de muitos trabalhadores, tal documento é visto por alguns pesquisadores como o ponto de partida para a criação da assim chamada Doutrina Social da Igreja, ideologia que relaciona-se à preocupação com a situação de pobreza de grande parte dos latinoamericanos, manifestada pelos religiosos do continente.
As preocupações e ações orientadas às melhorias de vida dos fiéis aconteceram tanto em âmbitos continentais como transcontinentais, contudo, na América Latina ganharam ainda mais força a partir da atuação das Comunidades Eclesiais de Base, as famosas CEBs e após a 2ª Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano, que ocorreu em 1968 - Medellín. 

As temáticas relacionadas ao assunto são múltiplas e para tratar destes temas, contamos com a participação do professor Mairon Escorsi Valério.

Valerio é historiador com mestrado (2007) e doutorado (2012) defendidos na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente atua como professor na Universidade de São Paulo (USP) e desde 2013 integra o corpo docente da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
Em 2012 publicou Entre a cruz e a foice: Dom Pedro Casaldáliga e a Significação Religiosa do Araguaia, fruto de sua dissertação de mestrado e participou de diversos projetos editoriais, como por exemplo, O negro em folhas brancas: ensaios sobre as imagens do negro nos livros didáticos de história do Brasil (últimas décadas do século xx), publicado em 2019. 

Mairon Integra o Centro de Estudos em História Cultural das Religiões (CEHIR) e seus interesses de pesquisa versam, principalmente, sobre o catolicismo da libertação no Brasil e na América Latina e as dinâmicas promovidas entre a Igreja, a cultura e sociedade.


Dicas e Links

Filme - "Elefante branco", Pablo Trapero 2012.

Revista - "Cristianismo y Revolución".

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