#56 - A invenção dos índios pelos europeus

Em 12 de outubro de 1492, chegou ao Novo Mundo o navegador Cristóvão Colombo. Através de seus relatos, é possível observar como um europeu via, interpretava e até mesmo inventava o novo continente e as pessoas que aqui viviam.
Chamados de "índios", nome derivado das Índias que então atraíam os olhares europeus por suas riquezas e especiarias, os habitantes deste continente foram descritos a partir do olhar dos navegadores e representados a partir de suas influências.
Uma delas é o relato de Marco Polo, comerciante veneziano que publicou durante a Idade Média um livro narrando sua viagem à Ásia. Colombo, que leu não só a obra de Marco Polo, mas também de outros viajantes medievais, associou as terras e os habitantes do nosso continente com a Ásia, pois acreditava ter chegado às Índias.
As interpretações dos europeus sobre que terra seria essa e quem seriam seus habitantes também foram influenciadas por outras narrativas, como a busca pelo Paraíso Terrestre e a existência de mulheres guerreiras, as chamadas amazonas. Porém, nada disso tinha relação com os habitantes deste continente. A imagem dos ameríndios foi sendo construída pelos europeus a partir de uma série de representações relacionadas ao mundo europeu do período e não às terras e povos alcançados por suas caravelas no período.
Ao longo dos séculos, o índio foi constantemente inventado e reinventado pelos europeus em seus relatos, cartas e mapas. Muitas vezes, essas representações possuíam uma carga negativa muito forte, que reforçavam a ideia de que se tratariam de seres inferiores, marcados pela falta de algo, resumido na expressão extremamente preconceituosa de que seriam um povo sem fé, sem lei e sem rei.
Quais eram as referências para o processo de invenção dos indígenas? Quais elementos são importantes nessa construção? Quais mudanças e permanências estão presentes nessa imagem? O que foi o "Debate do Novo Mundo"? Para responder essas e outras questões, convidamos a Flávia Preto de Godoy Oliveira, doutora em história pela USP e professora do IFSP.
Dicas e links
Livro "Ideias para adiar o fim do mundo" - Ailton Krenak (2019) Livro "A vida não é útil" - Ailton Krenak (2020) Documentário "A última floresta" - Luiz Bolognesi (2021)
Conheça nosso entrevistado

Flavia Godoy é bacharel, licenciada (2006) e mestra (2010) em história pela UNICAMP e doutora pela USP (2016).
Desde 2017, é professora no Instituto Federal de São Paulo no Campus de Jacareí. Nesta instituição, Godoy ministra aulas em diversas disciplinas, em especial, nos cursos de História e Pedagogia e também atuou como professora no Instituto Federal de Minas Gerais.
Flávia Godoy venceu o Prêmio da Sociedade Brasileira de História da Ciência de Melhor Tese em 2018 e, ao longo de sua carreira, publicou dezenas de artigos.
Seus interesses de pesquisa dialogam com a história do período colonial e a relação entre os europeus e os povos originários, especialmente no que diz respeito à atuação dos cronistas espanhóis e os paralelos propostos linguisticamente para dimensionar e exemplificar outras culturas.